De volta para o Brasil!

De volta para o Brasil!

Carissimos amigos,

uma boa noticia: no dia 16 de abril estarei de volta no Brasil para continuar a missao . Agradeço a Deus por esta grande graça e peço para cada um de vocEs fazer a mesma coisa, junto Comigo. Desejo a cada um uma Feliz Pàscoa de resurreiçao.

Padre Nello Ruffaldi

 

UM PARENTESE, UMA PROVA, UMA INCOGNITA

 

Sou Padre Nello Ruffaldi, missionário do PIME no Brasil há 40 anos. Desde 1971 trabalho com os Povos Indígenas a começar da região de Oiapoque no extremo norte. Faço parte do CIMI desde o seu nascimento, a serviço da missão entre os Povos indígenas em nome da Igreja.

A minha residência atual è em Belém do Parà, na casa do PIME que também é sede do Mensageiro, uma secretaria que inclui múltiplas atividades no campo do indigenismo e da Evangelização.

2011 era, para mim, o ano de férias na Itália. Já tinha comprado a passagem de ida e volta de 40 dias. O trabalho a fazer era muito mas as férias além do repouso marcam o reencontro e a comunhão com a Igreja de origem: parte integrante da missão.

A saída de Belém estava marcada para o dia 19 de julho e a volta no final de agosto. Os presentes para os amigos já estavam prontos. Tinha também preparado um DVD sobre o nosso trabalho. Estava fazendo caminhadas, exercícios para chegar mais em forma na Italia. Costumava fazer um chek-up geral e tirando alguns probleminhas as coisas estavam indo satisfatoriamente.

Uma manhã aparece um pouco de sangue no escarro. Nada demais para mim, mas irmã Rebeca insistia: “Fala com a doutora!” Falei e a doutora Sonia que mandou fazer os raios x. No dia 13 de junho veio o resultado: “Presença de uma massa di 13cm x 8cm no lóbulo superior do pulmão esquerdo”. Tomei consciência que era uma coisa seria e que a minha vida tinha mudado. “A minha vida está nas mãos de Deus”,disse para a minha colega, “Leia isto”. A minha doutora Sonia ficou muito preocupada. Seguiu tomografia computadorizada; a visita com um grande pneumologista, a broncoscopia, a biopsia. E no final o resultado: “carcinoma espinocelular invasivo”.

Era o dia 05 de julho, 19,00h. Todos, eu incluso esperávamos um resultado melhor: era mesmo um tumor maligno no meu pulmão e de bom tamanho. E agora José? O que fazer? O futuro era mesmo um ’ incógnita. Não foi um momento fácil. A minha cabeça rodava. Recusava entregar-me ao desespero. Repetia as palavras do salmo 23:

“Senhor tu és meu pastor. Mesmo que passe por um vale obscuro nada temerei. …Felicidade e graça vão me acompanhar todos os dias da minha vida. Eu sou teu. Eu sei que Tu me amas.”

 

Foi como uma passagem, um confronto com Deus, um mergulhar nele de improviso. Com certeza foi uma grande graça que recebi mesmo grátis; senti uma grande paz mesmo na insegurança.

Daí para frente a vida se desenrolou como num filme em que percebes que tem um regista que conduz a trama. Olhando para trás percebo como Deus tem dirigido a minha vida e tem me falado com múltiplos sinais que agora quero partilhar com vocês. Cada filme tem atores e eu acho que através deles que Deus me falou.

 

Os primeiros atores deste filme foram os amigos.

No começo Rebeca, Sonia, Ana Maria, Ângelo, Carlo,Vilson, Artur, Zica, a minha família na Itália. Foi celebrar nas comunidades e pedi orações. Desde o começo me senti rodeado, acompanhado. Os amigos e suas manifestações foram crescendo a cada dia, de todo canto: amigos de cada dia e amigos esquecidos, amigos perdidos há dezenas de anos, amigos que não sabia ser amigos, amigos do CIMI e do PIME e tantos outros novos. A comunicação começou no Brasil mas continuou em Roma, na minha aldeia, na minha diocese, na Itália. Email, telefonemas, recados. Os amigos transmitiam solidariedade, abraços, coragem, esperança, amizade, amor, carinho, orações,fé.

Com minha irmã, com meu irmão e as famílias deles sempre tive uma relação muito intensa e sincera, porém nunca os senti tão perto e até os conheci mais, como nesta doença.

O mundo da amizade e solidariedade foi um mundo novo que se abriu em concomitância com a doença. Ficava comovido, alegre, chorando, agradecendo, me maravilhando. Era um mundo conhecido mas em boa parte novo, não sonhado. E’ um mundo bonito, importante que ajuda a enfrentar a vida em mutirão. Pensei: “O bonito da vida é querer-se bem, é saber que somos queridos. Puxa! Não é preciso adoecer para experimentar esta realidade! Temos que manifestá-la no dia a dia. Esta experiência foi tão forte que disse a Deus: “Senhor, não gosto da doença mas a contrapartida é tão gratificante! Eu experimento o teu amor através da proximidade dos amigos”.

Nestes dias,quaresma Del 2012, volto com amigos e comunidades para agradecer a Deus pela vitória sobre a doença mas também pelo dom da amizade.

 

O segundo ator sou eu:

No momento que descobri de ter um tumor maligno no pulmão senti também que Deus tomava conta de mim e conduzia a minha vida.
Eu me entreguei a Ele e Deus me inspirou 03 atitudes que até agora me acompanham:

  • Me entregar por completo nas mãos de Deus com abandono e confiança sem limites.
  • De minha parte lutar com tudo em favor da vida e da saúde independentemente do resultado
  • Dar um passo atrás do outro com serenidade, segurança descobrindo o que Deus estava escrevendo em minha vida

Escolhi duas orações. A primeira foi de padre Carlos de Foucauld:

 

Meu Pai, amigo Jesus,
Eu me abandono em Ti,
Faz de mim o que quiseres.
O que fizeres de mim eu te agradeço,
Eu nada mais quero.
Senhor! Nas tuas mãos entrego a minha vida,
Eu me entrego a Ti por completo
Porque ti amo e me sinto amado.
Em ti tenho completa confiança
Porque és meu amigo, meu Pai
E meu Salvador.

A segunda eu fiz:

Dom Luciano,
Valioso presente de Deus para a igreja,
para os Povos Indígenas e para mim.
Como em Jesus, a tua grandeza como homem cresceu na medida da tua proximidade com as pessoas e com a causa dos mais humildes.
Homem de Puebla e da opção referencial pelos pobres.
Luciano, cada vez que te procurei, recebi de ti
Proteção, coragem e confiança.
Eu me entrego corpo e alma ao meu Deus e Salvador.
Eu te escolho como meu padrinho. Acompanha-me neste momento!
Confio no meu Deus e em você.

Belém: 11de julho de 2011.

Esta atitude nunca me abandonou durantes estes meses.

Muitos amigos rezaram e esperavam um milagre, daquele que a doença desaparece por conta e por completo. Nao pedia um milagre, mas repetia:”Meu Deus a minha pessoa e a minha vida te pertencem; faz de mim o que tu queres.”

Ainda esta história não terminou, mas eu a considero um verdadeiro milagre, isto é um sinal da misericórdia e do carinho de Deus. Este é um milagre que Deus não quis fazer sozinho, em que chamou muitos a participar, em que você não tem dúvida da sua presença, do seu amor, da sua providência: colocou ao teu lado muitos amigos, iluminou os médicos e guiou as mãos dos cirurgiões.

Esta doença esta tendo um epilogo inesperado. O que estava no meu pulmão era um tumor maligno, “carcinoma espinocelular invasivo” e agora não tem mais sinais da sua presença. E’ um caso que acontece muito raramente. Eu penso que é uma graça de Deus. Penso que Dom Luciano e os amigos bem próximos a Deus tiveram trabalho. Eu experimentei que Ele armou a sua tenda em minha vida e me acompanhou e acompanha.

Mas, mesmo que o êxito fosse diferente, assim mesmo o milagre continuaria porque o que tu experimentaste e experimentas é o que dá o sentido verdadeiro e firme da vida: ele é fiel e nele podes depositar toda a sua confiança.

Eu gosto muito de um trecho do profeta Habacuc, que também repeti no meu coração durantes estes meses:

Mesmo que a figueira não floresça,
Mesmo que a videira não produza uva

E as oliveiras parem de dar o seu fruto,
Mesmo que a roça nada tenha para dar,
E os rebanhos desapareçam dos redis,
E os currais não tenham mais gado,

Mesmo assim vou me alegrar no Senhor
E exultarei em Deus meu Salvador”. (Hab.3,13-14)

Gostou muito desta passagem e a utilizo na minha oração: Senhor, te
agradeço porque me dás a possibilidade de curar-me e voltar para o
Brasil; te agradeço, meu Deus, e estou muito grato. Porém te digo:

Mesmo que não tivesse possibilidade de cura,
Apesar de tanto pelejar e tentar;
Mesmo que, com muita frustração
Não pudesse voltar para o Brasil, não rever
Os amigos que me amam e continuar a missão que é a minha vida;
Mesmo que não recebesse os cuidados e as atenções que recebo;
Mesmo que a minha vida tivesse chegado ao fim,
Mesmo assim, Senhor…
Eu vou me alegrar no Senhor
e exulto em Deus meu Salvador,
mesmo assim não duvido
que está perto de mim e me amas,
e tornas preciosa a minha vida e a minha morte.

Sinto que estes sentimentos que experimentei e manifestei, que a capacidade de viver uma vida normal mesmo fazendo as quimioterapias, que falar com entusiasmo do Brasil e da missão que Deus me confiou, que partilhar os sonhos futuros, que ser solidário com os sofrimentos dos outros quase esquecendo por um instante os teus, que proclamar a esperança mesmo in situações diiceis, sinto que tudo isso é um grande presente de Deus, um sinal de sua presença e de seu amor em minha vida.

Os terceiros atores são os que apareceram no decorrer da doença:

Na Itália encontrei todas as portas abertas e profissionais competentes, atenciosos e interessados. Posso fazer um elenco a começar de professores, médicos, mas também enfermeiros\as, trabalhadores.

Tinha a certeza que cada pessoa que cuidava de mim fosse a mais competente na sua especialidade, tanta foi a confiança que me transmitiram: Pirronti, Porziella, Granone, Cassano ,Carnasale, Mantini, Balducci; são alguns dos muitos que conheci.

Tambem a velocidade com que se realizou a terapia foi excepcional. Tudo parecia encaixar no momento certo.

Num hospital com 1600 doentes me chamaram para a visita com cada um dos especialista e para fazer os exames num tempo curto e de maneira, as vezes, inesperada. Pensem que cheguei no dia 20 de julho e no dia 1 de agosto já iniciava a primeira quimio. Foram 6 com os exames e os controles acompanhando. Cada médico que me acompanhou me parecia o melhor, assim como os cirurgiões que tiraram o meu pulmão.

A todos o meu muito obrigado e o pedido a Deus que os abençoe e acompanhe sempre.

Não posso esquecer a doutora de C.Azzara Dr.a Silvia e aquela de Roma Dr.a Silvana.

De maneira especial me acompanharam, do começo até o fim a dottoressa Kisten Anderson e seu marido Dario Mencagli que abriram a casa e o consultório, me acolheram em sua família e criaram mais espaço em sua vida.

Me senti recebido e acompanhado na casa do PIME que senti como minha; gostei dos meus irmãos missionários entre eles Padre Gianluca Galimberti foi disponível o tempo todo.

Estes meses de doença me deram oportunidade de encontrar comunidades, amigos de infância, coirmãos, parentes. Todos estavam mais perto, mais sensíveis. O ano 2011 passou rápido e rico de encontros. Terminou co o Natal e o Primeiro do Ano cheios de alegria, encontros, celebrações.

 

O quarto protagonista é o Brasil:

O Brasil esteve sempre presente, em cada momento da doença; alias, durante a doença tornaram-se mais claras a nova missão em Mozambique e principalmente a missão nas fronteiras:Brasil, Guiana Francesa e Suriname. Espero mesmo que as duas se tornem realidade durante o 2012. Pensei bastante na missão Belém com os rapazes e as mulheres de rua pelos quais sinto um carinho especial e aos quais queria dedicar parte do meu tempo.

O que poderei ou não poderei fazer no Brasil?

Mas não me preocupo por isso: vou fazer o que conseguir fazer e fazer com gosto e alegria.

Este período na Itália estabeleceu outros contatos e relacionamentos que terão a sua influencia na futura missão.

Até no Brasil o relacionamento mudou com pessoas e comunidades.

Enfim, olhando atrás a fé no Deus que me ama e conduz a minha vida aumentou. Eu me sinto pequeno e muito amado. A comunhão que mantive com os amigos do Brasil e da Itália foi algo em que Deus enviou sua mensagem para mim e para os amigos.

Eu o agradeço por isso. Eu lhe peço amor e confiança para cada um de nós.

 

O Deus que não poupou seu próprio filho mas o entregou por todos nos, como não darà qualquer coisa junto com Ele?